Piquenique é um ousado retrato do midwest americano da década de 1950, que tem a sua origem na peça teatral homónima de William Inge, que lhe valeu um prémio Pulitzer. Os direitos da peça foram comprados pelo dono da Columbia Pictures, Harry Cohn, que pretendia replicar o sucesso da Broadway no grande ecrã e escolheu o próprio director da peça, Joshua Logan, para realizar o filme. Embora Piquenique seja o filme de estreia do realizador, Logan já tinha trabalhado em Hollywood, nomeadamente na década de 1930, primeiro como director de diálogos e, depois, como co-realizador do filme Não Há Amor Como o Primeiro (1938). Infeliz em Hollywood, Logan regressou a Nova Iorque, onde dirigiu uma série de peças com sucesso, que o levaram de regresso a… Hollywood.
Uma das primeiras constatações ao se ver Piquenique é que o actor William Holden surge fora de contexto: não só parece demasiado velho para interpretar o jovem Hal Carter (o actor tinha, então, 37 anos) como estava longe de ser um símbolo sexual. O actor tinha perfeita consciência disso e, durante a produção do filme, chegou a dizer que era demasiado conservador e velho para fazer striptease. No entanto, Holden, que vinha de um conjunto de filmes de sucesso como Sabrina e Para Sempre, que lhe renderam um bom dinheiro, estava desejoso de sair da Columbia Pictures (faltava-lhe um filme para cumprir o contracto que o ligava ao estúdio) e viu em Piquenique uma excelente oportunidade para sair com um filme de prestígio. Estes factores levaram-no aceitar participar no filme pelo baixo valor de 30 mil dólares.
A escolha da actriz principal revelou-se mais complexa, já que a personagem de Madge requer alguém que demonstre sensualidade e seja emotiva. A primeira escolha recaiu na actriz que interpretou a personagem na Broadway, mas o realizador acabou por rejeitar Janice Rule porque não conseguiu captar, por muito que tentasse, a sua sensualidade. A jovem Carroll Baker foi a segunda escolha para a personagem, mas o seu aspecto demasiado infantil levou a que não fosse escolhida. A escolha recaiu, então, em Kim Novak, a estrela mais sensual da Columbia Pictures, mas que muitos consideravam uma actriz menor. Segundo rumores, foi Harry Cohn quem insistiu na sua escolha, mas o realizador Logan veio afirmar, mais tarde, que a escolha tinha sido sua. Independentemente de quem foi a escolha, Logan teve inúmeras dificuldades em trabalhar com a actriz e o desespero do realizador foi tal que, alegadamente, a terá agredido no estômago como forma de Novak mostrar algum sentimento em frente às câmaras.
Não foi apenas Novak a revelar-se insegura durante as filmagens, também William Holden teve os seus problemas, não só por sentir que era demasiado velho ao lado de Novak, mas também porque tinha pavor de dançar. Muito embora os esforços do realizador, a verdade é que a importante cena da dança entre Holden e Novak, que ocorre durante o piquenique, revelou-se uma desgraça: os dois actores pareciam dois adolescentes descoordenados sem qualquer paixão entre si. Foi o director de fotografia James Wong Howe a salvar a cena, com o seu arranjo de luzes e movimentos de câmara.
Piquenique estreou no final de 1955 e foi um dos sucessos de bilheteira do ano, tendo ajudado Willim Holden a tornar-se um dos actores de Hollywood de maior sucesso no ano seguinte. Holden despediu-se, assim, em grande da Columbia Pictures e no seu último dia no estúdio brindou com Harry Cohn e Joshua Logan, dizendo que jamais voltaria a trabalhar com o responsável do Estúdio. Um ano mais tarde, Cohn propôs um novo projecto a Holden… A Ponte do Rio Kwai, que se revelou um sucesso e tornou o actor numa multimilionária estrela internacional.
Picnic Columbia Pictures, Estados Unidos, 1955, 114 min., drama. Realizador: Joshua Logan. Argumento: Daniel Taradash, baseado na peça de William Inge. Actores: William Holden, Kim Novak, Cliff Robertson, Rosalind Russell, Arthur O’Connell
Um jovem chega à cidade na tentativa de arranjar um emprego, mas a sua presença provoca uma série de acontecimentos que vai abalar a paz local.
The End