As histórias da história do Cinema

História

Sallie Gardner at a Gallop

Um cavalo a galope coloca as 4 patas simultaneamente no ar? Embora banal nos dias de hoje, a questão era bastante pertinente na segunda metade da década de 1870 e a sua resolução viria a transformar a sociedade, dando origem às “imagens em movimento” e ao cinema propriamente dito.

Eadweard Muybridge, um fotógrafo profissional com trabalho reconhecido em imagens paisagísticas, foi contratado pelo, então, Governador da Califórnia e amante de cavalos Leland Stanford, para ajudar a resolver uma aposta, que tinha por base a referida dúvida equina. Muybridge realizou, então, uma primeira experiência em 1877, cujo resultado foi recusado devido a suspeitas de manipulação das fotografias, aquando da sua revelação. O fotógrafo não desistiu e um ano depois idealizou nova experiência: ao longo de um percurso, colocou máquinas fotográficas (12 ou 24, consoante as fontes) espaçadas regularmente, que eram accionadas pelo cavalo a galope, através de fios. De forma a tornar o processo transparente, Muybridge convidou jornalistas a assistirem à experiência e tinha no local os meios para revelar as fotografias no momento. O sucesso da experiência conseguiu demonstrar que um cavalo a galope mantém, a espaços, as quatro patas no ar e Standford ganhou a aposta.

Por muito importante que a experiência fosse, ela apenas se torna importante para a história do cinema em 1879, quando Muybridge adaptou as fotografias de forma a puderem ser vistas como uma sequência animada, através do seu projector Zoopraxiscope. Sallie Gardner at a Gallop tornou-se, assim, no primeiro “filme” da história. Embora a sua natureza seja discutível, a verdade é que a sequência de imagens foi determinante na concepção do cinema e influenciou diversas áreas, como a fotografia, a ciência e mesmo a arte (o trabalho que Muybridge continuou a desenvolver na captura do movimento humano e animal ajudou artistas a compreender e melhor representar a noção de movimento).

Embora o objectivo de Muybridge fosse o de resolver um problema científico, o seu trabalho foi importante para o cinema, já que, quer, a sequência de fotografia quer o Zoopraxiscope, levaram ao Kinestescope, que, por sua vez, levou ao cinematografo e por ai adiante, até ao cinema de hoje. A influência do trabalho de Eadweard Muybridge é tal, que ainda hoje deixa marca no cinema (digital) moderno, como se pode ver em Matrix (1999): o filme dos irmãos Wachowski utiliza a mesma ideia base para construir as sequências em ultra câmara lenta, que tornaram o filme um sucesso.

Imagem: Eadweard Muybridge, Public domain, via Wikimedia Commons

The End