As histórias da história do Cinema

Estúdios

UFA – Universum Film Aktien Gesellschaft

Com o clima instável que a Europa vivia em 1917 (a I Grande Guerra ia no seu terceiro ano, a Rússia vivia uma revolução e os Estados Unidos declaravam guerra à Alemanha), os militares alemães viram no cinema o meio perfeito para influenciar o povo e exigiram a consolidação da indústria cinematográfica do país, a bem do império. Assim nasce, a 18 de Dezembro de 1917, a Universum-Film AF (UFA), financiada pelo Estado, pelo Deutsche Bank (Banco Nacional Alemão) e por grupos financeiros conservadores. Com um forte suporte financeiro, a UFA começa a adquirir diversas empresas cinematográficas, entre elas as mais prestigiadas do país, e constitui um grupo que abrange todas as áreas da produção cinematográfica.

A UFA cedo começou a construir a sua reputação artística, apostando em filmes de prestígio como as reconstruções históricas e as comédias do realizador Ernest Lubitsch. A reputação da empresa ganha contornos internacionais em 1921, quando adquire a Decla-Bioscop e o seu fundador, Erich Pommer, começa a trabalhar para a empresa. Sob a liderança de Pommer, a UFA entra na sua era dourada, graças aos trabalhos de Fritz Lang, que realiza Nibelungen (1922-24) e Metropolis (1925/26), e F.W.Murnau, responsável por O Último dos Homens, um grande sucesso nos Estados Unidos, e Fausto.

Os estúdios da UFA arrebentavam, por esta altura, de actividade, não só pela produção de longas-metragens, mas também de newsreels e documentários. Com a sua estrutura vertical, à semelhança dos estúdios norte-americanos, a UFA obtia proveitos como produtora, distribuidora e exibidora, detinha um departamento de publicidade, explorava os direitos dos filmes em livros, revistas e música, alugava equipamento, assim como detinha representações em diversos países da Europa e nos Estados Unidos. O catálogo da empresa não se limitava às grandes produções de Lang, Lubitsch e Murnau: graças à aquisição ou tomada de posição noutras empresas, a UFA detinha o direito sobre outros filmes, incluindo importações medíocres e de pequenos produtores alemães. O seu extenso catálogo permitia à empresa “alimentar” as centenas de salas de cinema que possuía. Embora não domina-se esta área cinematográfica, que apenas representava 10% de todas as salas de cinema existente no país, a UFA detinha as mais importantes nas principais cidades alemãs.

Em meados da década de 20, a UFA empregava 5.000 pessoas e os seus resultados financeiros eram negativamente avultados. De tal forma que a empresa se viu obrigada a assinar o contrato Parufamet com os estúdios norte-americanos Paramount Pictures e Metro-Goldwyn-Mayer. O contrato criava uma joint-venture que pressupunha a distribuição de 20 filmes de cada uma das três empresas na Alemanha. Altamente vantajoso para os norte-americanos, o contracto pressupunha também a distribuição de filmes alemães nos Estados Unidos, mas tal não veio a concretizar-se e apenas serviu ara abrir o mercado alemão às produções de Hollywood. O contracto não foi a causa dos problemas da UFA, mas apenas uma consequência da política da empresa, já que queria concorrer com as produções americanas e para tal não olhou a custos. Um dos melhores exemplos é o filme Metropolis: com um custo final 4 vezes superior ao inicial, demorou mais de 300 dias a ser filmado e foi um fracasso de bilheteira.

Como resultado da crise, Erich Pommer abandonou o cargo de chefe de produção e Alfred Hugenberg, dono de uma editora, adquire a UFA, incluindo as 140 empresas do grupo, as 134 salas de cinema e dois grandes complexos de estúdios. O objectivo de Hugenberg era manter o nacionalismo vivo na cultura alemã e impedir que a empresa caísse nas mãos dos norte-americanos. Em dois anos, Hugenberg conseguiu recuperar a empresa e contratou novamente Erich Pommer.

Em 1929, os filmes sonoros ganham a aceitação do público alemão e da UFA saem sucessos como Melodie des Herzens e Anjo Azul, este com a então desconhecida Marlene Dietrich. A nova equipa de Pommer, onde se incluíam nomes como Billy Wilder e Robert Liebmann, cria filmes de sucesso que combinam canções e dança, numa antecipação aos grandes musicais e Hollywood.

A nomeação de Adolf Hitler como Chanceler da Alemanha, em 1933, e o consequente domínio dos Nacionais Socialistas, trazem grandes alterações ao país. Joseph Goebbels, o novo Ministro da Propaganda, torna-se o patrão a industria cinematográfica alemã e a pressão sobre os judeus atinge também a UFA. Como consequência, os empregados judeus da empresa são despedidos (muitos abandonam o país) e a produção cinematográfica passa a ser dominada por filmes de propaganda. No entanto, a UFA produz também filmes extraordinários como as comédias e dramas de Reinhold Schuzel e Detref Sierek. Os melodramas de Sierek trouxeram-lhe reconhecimento dentro e fora do país e seria um género que viria a aperfeiçoar em Hollywood, na década de 50, sob o nome de Douglas Sirk.

Devido à perseguição política, muitos dos que trabalhavam na UFA tiveram que abandorar o país e os que ainda não tinham o tinham feito, em 1933, fizeram-no pouco depois como foi o caso de Billy Wilder, Fritz Lang, Peter Lorre e muitos outros. Grande parte destes nomes refugiaram-se nos Estados Unidos, onde viriam a desenvolver brilhantes carreiras e influenciaram, com o seu trabalho, a produção cinematográfica norte-americana e a própria história da sétima arte.

Com a intensificação das suas actividades, o governo Nazi avançou para a nacionalização da indústria cinematográfica, unindo as quatro grandes empresas do sector: UFA, Terra, Tobis e Bavaria. O resultado desta união foi a criação de uma super estrutura controlada pelo Estado: a UFA Film GmBH (UFI). Devido ao seu controlo estatal, a UFI começa a produzir filmes anti-semitas e militaristas, mas estes não dominam a produção da empresa. Mesmo após o início da II Grande Guerra, as salas de cinema alemãs exibiam maioritariamente comédias e melodramas.

Em 1941, a UFA, integrada na UFI, produz o primeiro filme a cores da Alemanha (Fraun Sind Doch Bessere Diplomaten), anos após a primeira produção do género em Hollywood. Para a celebração dos 25 anos da empresa foi também escolhido um filme a cores: a famosa história do Barão Munchhausen, ideal para demonstrar as capacidades da industria cinematográfica alemã durante a II Grande Guerra.

No fim do conflito bélico, em 1945, a Europa estava devassada e reduzida a escombros, mas as salas de cinema continuavam a funcionar e os estúdios da UFA mantinham a sua produção. Dos filmes que saíram do estúdio destaca-se o de propaganda Kolberg, o mais caro da história da empresa e que estreou em Janeiro de 1945.

Com a queda do III Reich, as forças aliadas tomaram conta da UFI e dividiram-na de forma a prevenir o ressurgimento de uma indústria cinematográfica nacionalista. Mas os interesses dos aliados não eram apenas políticos e a sua intenção era eles próprios dominarem o mercado alemão. Em 1949, os governos militares Inglês e Norte-Americano legislam no sentido dos interesses cinematográficos alemães ficarem sob a administração de um fundo até poderem ser de novo vendidos e proíbem a utilização do nome UFA. Apenas em 1953 é que a legislação se tornou menos restrita e anos mais tarde o governo alemão cria uma nova UFA, uma vez mais com o apoio do Deutsche Bank.

Incluindo estúdios, salas de cinema e laboratórios, a nova UFA é adquirida, em 1964, pelo grupo Bertelsmann. Este apenas estava interessado nos direitos de música e, quando em meados dos anos 60, a norte-americana Seven Arts pretendeu comprar o catálogo de 3 mil filmes da UFA, foi criada a Fundação F.W. Murnau para adquirir e administrar o catálogo, que o faz até hoje.

Em 1972, o empresário cinematográfico Heinz Reich adquire as salas de cinema da UFA, mas Bertelsmann manteve o nome da empresa. Com o nascimento da televisão privada na Alemanha, na década de 1980, Bertelsmann reestrutura a empresa e, desde então, tem vindo a adaptar-se aos novos tempos e as suas actividades estendem-se, atualmente, ao cinema, televisão e digital.