As histórias da história do Cinema

Filmes

As Férias do Sr. Hulot (1953)

Em 1949, o mímico Jaques Tati entrou para a história do cinema com a comédia Há Festa Na Aldeia, a sua primeira longa-metragem, que conta as aventuras de um carteiro de aldeia. Durante anos, Tati recusou muitas propostas para um novo filme com o personagem e, quatro anos mais tarde, criou uma nova (Sr. Hulot), que viria a surgir em mais três filmes, do total de cinco longas-metragens que Tati realizou ao longo da sua carreira.

Tal como os restantes filmes do Sr. Hulot, filme não tem uma história convencional, girando à volta da inaptidão do personagem em lidar com a vida moderna e os seus aparelhos tão característicos. A personagem é, muitas vezes, comparada a Charlot (até os nomes são semelhantes), no entanto, enquanto este é ágil e enfrenta o mundo de peito aberto, o personagem de Tati é tímido, desajeitado e, de forma inocente, procura encontrar o seu lugar no mundo.

Produzido com um pequeno orçamento e com amigos do realizador, As Férias do Sr. Hulot começou a ser rodado em Julho de 1951 e esteve longe de ser uma produção fácil. Problemas técnicos, acidentes e o mau tempo que assolou a praia de Saint-Marc-sur-mer, em França, obrigaram a prolongar a rodagem do filme por mais dois meses do que inicialmente previsto. De tal forma, que as crianças que participam no filme tiveram de filmar grande parte das suas cenas já após o início do ano escolar e Tati viu-se obrigado a ir buscá-las todos os dias após as aulas em dois jipes. Com todos estes problemas e visualizando-se o filme, este parece improvisado, mas na verdade As Férias do Sr. Hulot foi meticulosamente preparado por Tati, que levou a sua equipa à exaustão com a sua preocupação pelo detalhe. Aliás, o realizador nunca deu o filme por acabado e continuou a trabalhar nele ao longo dos anos, inclusive filmou e acrescentou uma nova cena 25 anos após a rodagem inicial.

Uma das características (e charme) de As Férias do Sr. Hulot é o facto de não ter praticamente diálogo e recordar-nos as comédias (físicas) do tempo do cinema mudo. Para tal, muito contribui o som, que era uma preocupação do realizador e que lhe ocupou mais tempo que a própria rodagem. De tal forma, que ao longo dos anos foi alterando os efeitos sonoros e a própria música do filme.

Apresentado no Festival de Cannes de 1953, onde Tati estreou a 3ª versão do filme, As Férias do Sr. Hulot chegou às salas de cinema nesse mesmo ano, tendo-se revelado um sucesso. Este foi tal, que o filme esteve em exibição durante meses e mesmo nos anos seguintes era comum salas de cinema exibirem o filme durante uma ou duas semanas, sempre com sala cheia. O sucesso do filme estendeu-se além-fronteiras, onde foi aclamado pela crítica e foi mesmo nomeado para o Óscar de melhor argumento em 1955.

Tati voltaria a interpretar a personagem novamente em mais três filmes, mas As Férias do Sr. Hulot será sempre o grande filme do Sr. Hulot e pelo qual é mais recordado.


Les Vacances de Monsieur Hulot
Discifilm, França, 1953, 114 min., comédia
Realizador: Jacques Tati. Argumento: Jacques Tati e Henri Marquet. Actores: Jacques Tati, Nathalie Pascaud, Micheline Rolla, Raymond Carl, Lucien Frégis

As aventuras de Sr. Hulot numa estância balnear durante as férias de verão.

The End