As luzes apagam-se. Os anúncios passam. De repente, uma fanfarra familiar começa a tocar e no ecrã surge o logótipo do estúdio responsável pelo filme: o leão da Metro-Goldwyn-Mayer, a senhora da Columbia Pictures, a montanha da Paramount Pictures. Muitas vezes vimos estes logótipos e não lhes prestamos atenção, no entanto, fazem parte da experiência cinematográfica. Quem imaginou e produziu estes breves, mas familiares momentos? Quais as histórias por detrás destas imagens?
O século XX viu nascer o logótipo corporativo e este tornou-se num símbolo poderoso, que cria no consumidor uma identificação instantânea com a marca, transmitindo-lhe, inconscientemente os seus valores. Os estúdios de Hollywood fizeram parte desta prática desde o seu início, tendo-se inspirado nos programas de teatro e de variedades, em que cartões identificavam os intérpretes antes do começo do espectáculo.
Os primeiros filmes apresentavam apenas um cartão com o nome da produtora, o seu logótipo e, por vezes, uma frase sobre os direitos de autor. Com o aparecimento das produtoras independentes, por volta de 1909, os créditos iniciais foram evoluindo, passando a surgir também os nomes dos actores e, mais tarde, realizadores, directores de fotografia, argumentistas, entre outros. Por esta altura, começa o hábito de se separar o logótipo da produtora dos restantes créditos, ganhando aquele um espaço próprio no início de cada filme.
É também por esta altura, que surgem os primeiros logótipos em movimento, ao contrário dos restantes que eram desenhos. Aqueles eram mais complicados de produzir e tinham de ser recriados para cada filme produzido, o que se tornava muito oneroso (no inicio do século XX, cada estúdio produzia, em média, cerca de 100 filmes por ano). Para resolver o problema, o logótipo era filmado uma vez, copiado e colocado no início da primeira bobine de cada filme. Uma prática que se mantém até aos nossos dias. Com o advento do cinema sonoro, alguns estúdios adicionaram som e fanfarras aos seus logótipos, como foi o caso da 20th Century-Fox e da RKO Radio Pictures.
Conheça, de seguida, as histórias dos logótipos dos mais carismáticos estúdios de Hollywood.
Metro-Goldwyn-Mayer
De todos os logótipos, o da Metro-Goldwyn-Mayer é o mais conhecido e carismático de todos, sendo um dos que menos alterações sofreu ao longo dos anos. A sua origem remonta a 1918 e foi criado pelo publicista Howard Dietz para a Goldwyn Pictures. A versão do logótipo, tal como a conhecemos, foi utilizada em 1925, aquando da nova designação do estúdio: Metro-Goldwyn-Mayer.
Embora ao longo dos anos tenham sido filmadas diversas versões de Leo (nome por que ficou conhecida a mascote do estúdio), nenhuma alterou substancialmente o logótipo, nem mesmo quando filmaram a versão em Cinemascope.
Em 1966 e seguindo a moda da época, o carismático leão foi substituído por uma imagem estilizada, mas o protesto de fãs e accionistas fizeram a administração do estúdio recuar, mantendo o antigo até aos dias de hoje.
20th Century Fox
Embora não tão carismático como o da Metro-Goldwyn-Mayer, o logótipo da 20th Century-Fox é também uma das mais conhecidas imagens de marca de Hollywood. Criado pelo artista Emil Kosa, Jr. em 1933, para a 20th Century Pictures, o logótipo do estúdio tem como ponto forte a fanfarra que o acompanha e que foi criada pelo então director musical da United Artist, Alfred Newman.
Em 1935, a 20th Century Pictures funde-se com a Fox Film Corporation e Kosa redesenha o logótipo de forma a incorporar o nome da nova empresa: 20th Century-Fox. Durante essa década o logótipo não sofreu grandes alterações e só com a versão em Cinemascope (a 20th Century-Fox foi o primeiro estúdio a ter uma versão a cores do seu logótipo) é que este sofre a sua primeira grande alteração, novamente por Kosa: o edifício é redesenhado e o fundo passa a ser um crepúsculo.
Durante um pequeno período no início da década de 70, os filmes do estúdio deixaram de apresentar a sua imagem de marca, mas, à semelhança do que aconteceu com a Metro-Goldwyn-Mayer, também a administração recuou na decisão, perante os protestos de admiradores e accionistas.
Em 1994, foi realizada a actual versão computorizada e muito embora as diferentes versões ao longo dos anos, a fanfarra foi praticamente sempre a mesma criada por Alfred Newman.
Columbia Pictures
A “Senhora Columbia”, a personificação da América, surgiu pela primeira vez em 1924 e foi inspirada por uma debutante num poster de propaganda anti-Alemanha. Embora diversas actrizes tenham, ao longo dos anos, afirmado que serviram de modelo para o logótipo, a verdade é que nem o próprio estúdio tem registos do processo.
No logótipo que surge no início do filme Uma Noite Aconteceu (1934), a “Senhora Columbia” surge envolta numa tonga, segurando uma tocha e com a bandeira dos Estados Unidos à sua volta. Nesta versão, as letras do estúdio surgem já esculpidas em maiúsculas, o fundo é negro e a senhora está apenas de pé.
Cinco anos mais tarde, uma nova versão do logótipo surge com o filme Peço a Palavra (1939) e é já muito diferente: a “Senhora Columbia” surge em cima de um pedestal, a sua figura é mais elegante, a bandeira norte-americana é menos visível, nuvens substituem o anterior fundo negro e apenas surge a palavra Columbia.
Ao longo das décadas seguintes, o logótipo sofre diversos retoques, mas nada que o altere significativamente. Em 1976 dá-se a maior das alterações do logótipo, com a “Senhora Columbia” a desaparecer por completo e substituída por um desenho dos raios da tocha.
Em 1982, a Coca-Cola compra o estúdio e 7 anos depois a “Senhora Columbia” regressa como imagem de marca, mais curvilínea que nunca, havendo quem dissesse que a silhueta da senhora era semelhante a uma garrafa de Coca-Cola.
Com a compra do estúdio pela japonesa Sony, o logótipo regressa às origens, com uma imagem clássica, mas actualizada aos tempos modernos. Como curiosidade refira-se que nesta versão o rosto final, embora baseado numa modelo norte-americana, é uma composição computorizada.
Paramount Pictures
A montanha Paramount é o logótipo mais antigo dos estúdios de Hollywood, tendo sido escolhida pelo criador da empresa em 1914. No entanto, o primeiro filme onde é possível ver o logótipo sozinho e em toda a sua grandeza é no filme Asas (1927), curiosamente o primeiro a ganhar um Óscar de melhor filme.
Ao longo das décadas, o logótipo da Paramount Pictures foi sofrendo alterações, o mais importante em 1953 quando o estúdio fez uma versão para ecrãs panorâmicos: o artista Jan Domela criou uma montanha maior, mais colorida e com mais paisagem à sua volta.
Entre 1954 e 1956, o logótipo ganhou uma fanfarra, tendo esta versão sido exibida apenas com os filmes produzidos no sistema VistaVision. Na década de 70, o logótipo ganha uma versão estilizada e em 1987 é criada a versão computorizada, aquando do 90º aniversário do estúdio.
Warner Bros.
A origem do logótipo da Warner Bros. perdeu-se no tempo e um dos primeiros filme onde é possível ver o escudo é no filme Cantor de Jazz (1927), o primeiro filme sonoro da história do cinema.
Muito embora as suas muitas alterações ao longo das décadas, o escudo manteve-se sempre como imagem de marca do estúdio. A excepção foi o início da década de 30, em que o escudo foi substituído por bandeiras, mas regressou em 1935. A acompanhar as diversas alterações corporativas da empresa, o logótipo, mantendo o escudo, foi sendo alterado de forma a reflectir os diversos nomes da empresa: do W7 da Warner Bros. – Seven Arts até ao simples “W” da Warner Comunications.
Na década de 80, o logótipo original regressou também como imagem de marca da empresa subsidiária do estúdio, a Warner Bros. Family Films. De forma a reflectir os filmes familiares desta empresa, o seu logótipo era constituído pelo escudo original da Warner e por… Bugs Bunny. O mais recente logótipo é feito em computador, mostrando os edifícios do estúdio reflectidos no escudo.
RKO Radio Pictures
O símbolo da RKO foi criado em 1929 por Linwood G. Dunn, que recriou uma miniatura do logótipo (uma antena em cima de um globo a girar) e o filmou através de paredes de vidro onde tinham sido desenhadas nuvens. Desde a primeira versão do logótipo que se consegue ouvir os famosos sons de código morse “A Radio Production”. Desde então o logótipo tem-se mantido praticamente o mesmo, sendo o que menos alterações sofreu ao longo dos anos. Em 1994, os novos donos da RKO produziram uma versão computorizada do logótipo, mas esta nova versão deixou de ter o som do código morse.
Universal Pictures
O desaparecimento ao longo dos anos de muitos dos primeiros filmes da história do cinema, não permite saber quando é que o logótipo da Universal Pictures foi utilizado pela primeira vez. No entanto, existem registos da existência de um logótipo da empresa em publicidade da década de 20 e que o mesmo terá sido utilizado em filmes dessa década.
A primeira versão que se conhece do logótipo consiste numa globo feito em plástico, rodeado de estrelas e com um avião a andar à sua volta. Esta versão, em que se pode ouvir o som do avião, terá sido produzida aquando do advento do cinema sonoro, sendo possível vê-lo em filmes do início da década de 1930.
Ao longo dos anos, e de forma a acompanhar as diversas inovações tecnológicas, o logótipo da empresa foi sendo actualizado, nomeadamente com versões a cores, em Cinemascope e, mais recentemente, com uma versão computorizada, embora a versão com o avião apenas tenha sido produzida a preto e branco. Para comemorar o seu 75º aniversário, o estúdio produziu, em 1989, uma versão que utilizou apenas nos filmes distribuídos nesse ano e que incluía um resumo de todas as versões anteriores.
The End