As histórias da história do Cinema

História

O nascimento dos filmes B na Grã-Bretanha

Em meados da década de 1920, o panorama cinematográfico britânico era dominado pelas produções norte-americanas e a industria cinematográfica nacional entrara em declínio. Para piorar a crise, o advento do cinema sonoro implicava, para produtoras e estúdios, um investimento em equipamento, que era incomportável. Alugando os filmes a preços baixos (uma vez que já tinham recuperado o investimento e tido lucros nos Estados Unidos) e em bloco (os exibidores britânicos eram obrigados a alugar um conjunto de filmes menores para conseguir o último grande sucesso), os distribuidores norte-americanos conseguiam exibir cerca de 600 filmes por ano na Grã-Bretanha, deixando pouco espaço para as produções nacionais. Perante este cenário, a produção cinematográfica britânica entrara em declínio e, em 1925, o país produziu apenas 33 filmes, a maioria co-produções norte-americanas. Algo tinha de ser feito.

Em 1927, o Parlamento britânico aprovou uma lei para estimular a industria cinematográfica do país e que estipulava uma quota de filmes nacionais que tinham se ser exibidos por ano: 7,5% no primeiro ano, a percentagem deveria subir gradualmente até aos 20% em 1935. A lei definia um filme britânico como aquele em que 75% dos salários eram pagos a cidadãos britânicos, incluindo o argumentista, e cuja produção decorria em qualquer local do império britânico. O resultado foi o aumento do número de produtoras cinematográficas, mas uma vez que a lei se referia a empresas constituídas na Grã-Bretanha e não a empresas controladas por britânicos, uma boa parte das novas produtoras eram subsidiárias de empresas estrangeiras, nomeadamente das majors norte-americanas. Mancunian Film Company, British International Pictures (que fazia parte da Associated Britsh Picture Corporation), Hammer Films, Gainsborough Studios, Gaumont-British Picture Corporation, Paramount-British são apenas algumas das empresas cujas produções contribuíram para a lei.

Como resultado, a lei deu origem aos Quota Quickies, filmes produzidos unicamente para preencher a quota, de baixíssimo orçamento e rodados muito rapidamente (a regra de ouro era a de gastar 1 libra por cada pé de película). Muito embora estes filmes tenham sido menosprezados por muitos, inclusive pela critica da época, a verdade é que se tornaram um importante elemento da industria cinematográfica britânica, já que permitiu a esta sair do declínio em que se encontrava e desenvolver uma viável e sustentável cultura cinematográfica britânica.

Outro dos aspectos importantes dos Quota Quickies foi o facto de ter permitido que jovens artistas, nomeadamente actores e realizadores, desenvolvessem as suas carreiras e muitos deles viriam, décadas depois, a tornarem-se figuras importantes dos panorama cinematográfico britânico e mundial. Entre essas figuras destacam-se os actores Laurence Olivier, Vivien Leigh e James Mason e os realizadores Michael Powell e Alfred Hitchcock. O início da II Grande Guerra e a diminuição das produções norte-americanas permitiu que esta nova geração de profissionais ocupa-se o vazio que então surgiu, sendo os anos 40 conhecidos como a época de ouro do cinema britânico.

Embora os Quota Quickies sejam o resultado mais conhecido da lei, esta também deu origem a filmes de qualidade, nomeadamente os produzidos pela London Pictures, do húngaro naturalizado britânico Alexander Korda. O seu filme de maior sucesso foi A Vida Privada de Henrique VIII (foto), que conseguiu transpor o Atlântico e foi, na época, um dos raros sucessos britânicos nos Estados Unidos. Os filmes seguintes de Korda não tiveram o mesmo sucesso e por volta de 1937 a “bolha” tinha arrebentado e parte das produtoras deixaram de existir ou fundiram-se entre si.

Em 1938, a lei das quotas foi revista e a nova versão pretendeu acabar com os Quota Quickies, instituindo que apenas filmes com um orçamento mínimo de 7.500 libras poderiam contar para a quota e permitia que filmes que custassem três vezes aquele valor contassem a dobrar. O advento da II Grande Guerra fez com que os efeitos da nova lei nunca se viesse a sentir.

The End