Após a Primeira Guerra Mundial, a Europa encontrava-se devastada económica e socialmente, o que permitiu que os ideais nacionalistas e antiliberais prosperassem por diversos países. Itália foi um desses países, onde o ex-socialista Benito Mussolini funda o grupo Fasci Italiani di Combattimento, que se tornaria a base do movimento fascista e governaria o país entre 1922 e 1943.
O controlo da sociedade pelo Estado é uma das características do fascismo e, neste contexto, o governo de Mussolini aprova, em 1939, a “Lei Alfieri”, que tornou o estado Italiano no único comprador e distribuidor de filmes estrangeiros no país. Em discordância com este monopólio, as principais empresas cinematográficas norte-americanas abandonam o mercado italiano e o Estado torna-se no grande produtor cinematográfico.
É neste contexto, que começam a surgir, em Itália, melodramas e comédias leves baseadas na screwball comedy norte-americana e, em parte, nas comédias de situação que surgiram na Hungria na década de 1920. Estes filmes, produzidos maioritariamente entre 1938 e 1943 nos conhecidos estúdios da Cinecitta (obra também do regime fascista) ficaram conhecidos como telefoni bianchi (telefone branco). Este termo, pejorativo, surge pela presença, nos primeiros filmes do género, de telefones brancos, considerados um símbolo de estatuto social e que contrastavam com os de cor preta, mais baratos e comuns. Os telefones brancos enquadravam-se nos sumptuosos cenários Art Deco, outra característica deste género cinematográfico, que também ficou conhecido como “filmes deco”.
Os valores conservadores, familiares e respeito pela autoridade, característicos do género, eram do agrado do regime fascista e permitiu que os filmes não tivessem problemas junto da censura estatal. No entanto, a verdade é que o género funcionou como um escape às dificuldades vividas neste período e o facto de ser uma directa propaganda ao regime é algo, ainda hoje, de debate e discussão.
Devido à influência húngara, muitos dos filmes telefoni bianchi, tinham como cenário o leste da Europa, o que permitiu, muito embora os seus valores conservadores, abordar temas que seriam impensáveis na Itália à época, como o adultério, o divórcio, a diferença de classes e até questões de identidade sexual.
Embora este género cinematográfico esteja associado a realizadores menos conhecidos, a verdade é que é possível identificar obras de nomes como Mario Camerini, Alessandro Blasetti e Vittorio De Sica, cujos primeiros três filmes são telefoni bianchi.
Com o final da Segunda Guerra Mundial, o fascismo foi derrotado e a Itália era um país, uma vez mais, devastado e com uma economia em grandes dificuldades. Esta realidade estava longe do cinema e, neste contexto, nasceu um movimento com preocupações humanistas, que reclamava que o cinema devia “ver” e analisar a realidade sem embelezamento: o neo-realismo italiano. Um dos nomes mais marcantes do género foi precisamente… Vittorio De Sica, que realizou verdadeiros retratos da decadência económica e social que o país viveu após o período fascista.
Imagem: “La Casa del Peccato” (1938), via Wikimedia Commons
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