A filmografia de Jean Vigo “resume-se” apenas a 4 filmes, uma vez que o realizador faleceu aos 29 anos de idade, vítima de tuberculose. No entanto, A Atalante, a sua única longa-metragem, é um dos mais extraordinários filmes da sétima arte, estabelecendo Vigo como um dos pioneiros do realismo poético na década de 1930 e cuja influência na nouvelle vague foi fundamental. Aliás, um dos um dos seus maiores fãs foi o realizador francês François Truffaut, que viu A Atalante pela primeira vez aos 14 anos e ficou extasiado pela obra.
Nascido em 1905, de pais anarquistas, Jean Vigo cedo se apaixonou pela imagem e pelo cinema, em particular a sua história, e com o dinheiro do sogro iniciou a sua curta carreira com o documentário À Propos de Nice (1930), dedicado à cidade francesa. Nos dois anos seguintes realiza outras duas curtas-metragens Taris, Roi de l’Eau (1931) e Zero de Conduit (1932), uma visão negra sobre os colégios para rapazes, onde o realizador projecta a sua própria adolescência.
Foi a fama de Zero de Conduit que permitiu a Vigo realizar A Atalante, no rigoroso inverno de 1933/34. As 11 semanas de rodagem decorreram em condições difíceis, quer de tempo, quer a nível de segurança, já que as filmagens decorreram em canais e pontes congeladas e contribuíram para a doença que levou à morte o realizador. Muito embora as difíceis condições, o entusiasmo e tenacidade de Vigo, muito admirados pela equipa técnica, nunca esmoreceram, o que torna o filme e o talento do realizador ainda mais admiráveis.
Para os principais papeis de A Atalante, Vigo recrutou Jean Dasté, com quem tinha trabalhado em Zero de Conduit, Dita Parlo, conhecida actriz alemã e que participou em A Regra do Jogo, e o conhecido actor teatral Michael Simon. Para a música, Vigo convidou o seu amigo Maurice Jaubert, autor da música de Zero de Conduit e que tinha conhecido numa apresentação sobre filmes mudos. O músico viria a tornar-se num dos mais importantes compositores franceses de bandas sonoras, em particular na era do mudo e no inicio dos filmes sonoros.
Após as filmagens, Vigo estava demasiado doente para participar plenamente na montagem do filme e as primeiras versões foram consideradas impróprias para exibição, tendo o estúdio exigido cortes de forma a tornar o filme mais comercial. Perante a pressão, Vigo respondeu “Je me suis tué avec L’Atalante” (A Atalante matou-me). Três semanas após a estreia falhada do filme, o realizador morreu, seguido da sua jovem mulher. Muito embora criticas favoráveis, o filme rapidamente foi esquecido até porque a morte do realizador fez cancelar muitas das exibições do filme. Tempos mais tarde, o estúdio remontou o filme e substituiu a música de Jaubert por uma canção popular na época.
Carregado de alguma sexualidade, A Atalante, tal como os restantes filmes do realizador, foram banidos em França até 1945 e muito embora diversas tentativas para restaurar o filme, este apenas foi redescoberto nos anos 90. A nova vida de A Atalante deveu-se à descoberta de uma cópia da versão original do realizador nos arquivos do British Film Institute, que a deverá ter recebido por engano em 1934. Esta versão foi, então, restaurada e dada uma ampla exibição, o que possibilitou a redescoberta do filme.
L’ Atalante
Gaumont-Franco Film-Aubert, França, 1934, 89 min., drama. Realizador: Jean Vigo. Argumento: Jean Guinée, Albert Riéra e Jean Vigo. Actores: Dita Parlo, Jean Dasté, Michel Simon, Gilles Margaritis, Louis Lefebvre, Maurice Gilles, Raphaël Diligent
Após o casamento, Juliette e Jean vão viver para o barco deste, mas a vida abordo não satisfaz Juliette, que sonha em visitar Paris. Quando surge a oportunidade, ela foge para visitar a cidade, provocando uma ruptura no casamento.
The End