A Floresta Petrificada é um clássico cinematográfico como poucos, e ainda mais raro nos dias de hoje, já que dá primazia aos diálogos (inteligentes) e à dimensão dos seus personagens. O filme não esconde a sua origem, a peça teatral de Robert Sherwood com o mesmo nome, e mantém todos os pontos fortes desta, tendo praticamente apenas um cenário: o Bar B-Q.
O filme começa logo por situar o espectador com o plano inicial do árido deserto do Arizona e a partir daqui “entramos” num mundo recheado de personagens únicos e de uma dimensão rara: do escritor frustrado à jovem sonhadora, passando pelo duro criminoso, poucos filmes dispõem de tão vasto, mas complementar, leque de personagens.
A qualidade do filme não se esgota nos seus personagens, aliás, estes não teriam, a dimensão que têm se não fosse os bons actores que os interpretam. Leslie Howard e Humphrey Bogard repetem os mesmos papéis que com tão sucessos interpretaram nos palcos da Broadway, muito embora a escolha de Bogard não tivesse sido tão evidente para os responsáveis da Warner Bros. Numa primeira instância estes pretendiam Edward G. Robinson (O Pequeno César) para o papel de Duke Mantee (Robinson era mais comerciável e estava sob contrato do estúdio, o que não acontecia com Bogard), mas Howard insistiu na participação deste, que acabou por ser contratado.
Bogard atravessava na altura uma fase de estagnação da sua carreira e viu o filme como uma oportunidade de ouro, preparando-se arduamente para o papel. Baseando-se no famoso criminoso John Dillinger, Bogard tem, em A Floresta Petrificada, uma interpretação intensa, criando um vilão duro e negro, mas que também aparenta as características de um homem apaixonado e vulnerável. Bogard consegue imprimir, na perfeição, estes sentimentos contraditórios e podemos ver na sua interpretação a razão porque viria a tornar-se num dos mais carismáticos actores de Hollywood. Bogard não se esqueceu do gesto de Howard, a ponto de baptizar a sua primeira filha de Leslie, em honra do seu amigo.
Se Duke Mantee é um homem amargo e vulgar, já Alan Squier é o oposto: inteligente, delicado e cavalheiro. Embora Leslie Howard seja mais conhecido pelo seu papel em E Tudo o Vento Levou, são os seus trabalhos anteriores os que melhor revelam o seu talento e A Floresta Petrificada é disso um bom exemplo. Howard e Bogard complementam-se na perfeição (serão as suas personagens assim tão diferentes?), mas o resto do elenco não lhes fica atrás: Bette Davis é perfeita no papel da ingénua e sonhadora Gabrille; Charley Grapewin é o cómico de serviço; Dick Foran dá uma vivacidade única ao jovem desportista apaixonado pela bela Gabrille, mas que não a compreende; os restantes actores cumprem com o seu papel, servindo como bom complemento aos protagonistas.
Com um orçamento de 500 mil dólares, A Floresta Petrificada demorou apenas dois meses a ser filmado (o filme tem praticamente um único cenário) e estreou em Fevereiro de 1936 nos Estados Unidos. Muito embora o seu final demasiado teatral, o filme, produzido em plena Depressão, é um excelente retracto social, conseguido através de um variado e magnifico conjunto de personagens. Funcionando como um todo, o filme toca vários géneros cinematográficos: mesmo sem cowboys, é povoado de desperados, como um western; os seus traços negros antecipam o film-noir; as paixões e os sentimentos tornam o melodramático; tudo recheado de acção e algum suspense. Um verdadeiro clássico.
The Petrified Forest
First National / Warner Bros., Estados Unidos, 1936, 83 min., thriller. Realizador: Archie Mayo. Argumento: Charles Kenyon e Delmer Daves, baseado na peça de Robert E. Sherwood. Actores: Leslie Howard, Bette Davis, Humphrey Bogart, Genevieve Tobin, Dick Foran, Joe Sawyer, Charley Grapewin
Um escritor falhado vagueia pelo deserto e entra num café onde encontra uma jovem sonhadora por quem se vai apaixonar. Entretanto, um famoso criminoso anda fugido à polícia e refugia-se no café. O encontro vai alterar o curso das vidas de todos.
The End