As histórias da história do Cinema

Filmes

Até à Eternidade (1953)

Até à Eternidade é baseado no livro com o mesmo nome publicado em 1951 por James Jones. Com mais de 3 milhões de cópias vendidas, o livro foi um sucesso de vendas e de crítica, tendo recebido o National Book Award e catapultou o seu autor para a fama. O sucesso do livro atraiu a atenção dos estúdios de Hollywood, mas devido ao seu tamanho (a edição de bolso tem mais de 950 páginas) e uma linguagem rude, o livro parecia impossível de adaptar ao cinema.

Quando o patrão da Columbia Pictures, Harry Cohn, comprou os direitos cinematográficos por 82 mil dólares, todos o consideraram um louco. O livro é um retrato da instituição militar americana onde o sexo, o jogo e a violência predominam na vida de homens inadaptados e revoltados. A imagem negativa que o livro transmite da vida militar foi a causa principal pela qual o exército americano não apoiava a sua adaptação ao cinema e sem esse apoio o filme pareceria falso e perderia o seu impacto. Cohn era um produtor astuto (sob a sua direcção, a Columbia passara de uma pequena produtora da Poverty Row a um dos maiores estúdios de Hollywood) e designou Buddy Adler como produtor do filme, uma vez que este tinha sido tenente-coronel durante a II Grande Guerra e utilizou a sua influência a favor do filme.

O argumento ficou a cargo de Daniel Taradash que, satisfazendo as pretensões do exército, eliminou todas as referências à prostituição feminina e masculina, suavizou a violência e “castigou” o Capitão Holmes, que no livro é promovido pela sua má conduta. Nestas circunstâncias, o exército acedeu a colaborar na produção do filme e emprestou material, tropas e a sua base no Havai para a rodagem.

Muito embora o seu orçamento de 2,5 milhões de dólares, o filme foi rodado a preto e branco por insistência do realizador Fred Zinnermann e não utilizou nenhum dos formatos de grande ecrã tão comuns na época. A escolha de Zinnemann deveu-se à sugestão de Taradash que tinha gostado da maneira como o realizador tinha retratado soldados em filmes anteriores, nomeadamente em Anjos Marcados. Zinemmann hesitou em realizar o filme não só pela desconfiança de Harry Cohn, mas principalmente pelo facto de qualquer contestação em relação a uma das instituições americanas, neste caso o exército, era vista com desconfiança pelas autoridades. O McCartismo estava ainda muito presente na sociedade americana e filmar um livro que criticava tão abertamente a autoridade era visto como um acto subversivo.

Para o papel principal, Cohn pensou em Aldo Ray que estava sob contracto na Columbia e em quem depositava esperanças de vir a ser uma grande estrela. Mas Zinnemann achou que Montegomery Clift personificava na perfeição a personagem do jovem Prewitt e muito embora Cohn tenha reclamado que Clift “não era nem soldado nem jogador de boxe e provavelmente era homossexual”, acabou por aceitar a pretensão do realizador. Por seu lado Clift levou a sua interpretação muito a sério, aprendendo a tocar a corneta (mesmo sabendo que seria dobrado) e teve lições de boxe. A sua interpretação foi extremamente forte, provocando reacções dos restantes actores, que se esforçaram para estar ao mesmo nível.

Um dos actores que reconheceu a qualidade de Clift foi Burt Lancaster, que se sentiu intimidado pela intensidade do seu colega. Lancaster foi o único actor cuja escolha para participar no filme não levantou qualquer problema e ele estava consciente da importância que o filme tinha para a sua carreira. Até ai, o actor apenas tinha tido papeis menores e a qualidade do seu desempenho permitiu relançar a sua carreira.

A participação de Frank Sinatra em Até À Eternidade é já tão lendária como o próprio filme. O personagem Maggio estava inicialmente destinado a Eli Wallach, mas Sinatra utilizou toda a sua influência para ser contratado, nunca tendo sido provado que tenha recorrido às suas ligações à Máfia para conseguir os seus objectivos. Para Cohn, Sinatra não passava do actor que dançara ao lado de Gene Kelly nos musicais da Metro-Goldwyn-Mayer e a sua carreira andava muito por baixo. Sinatra sabia disso e, conhecendo bem o livro, viu em Maggio uma boa oportunidade para relançar a sua carreira e aceitou receber apenas 8 mil dólares pela sua participação no filme. Decisão sábia, já que acabaria por receber o Óscar para melhor actor secundário e relançar a sua carreira.

Também o papel de Karen Holmes viria a ser desempenhado por outra pessoa que não a primeira escolha. Devido a divergências artísticas, Joan Crawford acabaria por ser preterida e Zinnemann, Taradash e Adler consideraram que Deborah Kerr traria outra dimensão à personagem. Até ai, Kerr apenas tinha desempenhado papéis de senhora e estava longe de ser a figura sexual que era Crowford, mas Kerr desempenhou a personagem com uma intensidade que surpreendeu todos. Segundo histórias da época, grande parte dessa “nova” sexualidade da actriz deveu-se ao romance que manteve com Lancaster durante as filmagens: a verdade é que a cena do beijo é, ainda hoje, uma das mais emblemáticas da história da sétima arte. A cena tinha sido escrita para que os actores se beijassem de pé, mas Lancaster teve a ideia de fazerem a cena deitados à beira mar e a cena resultou tão bem que fotos do beijo foram censuradas por serem consideradas demasiado eróticas.

As filmagens de **Até à Eternidade duraram cerca de 41 dias e o filme estreou em Setembro de 1953, tendo sido um sucesso de bilheteira e de critica. Galardoado com 8 Óscares, incluindo melhor filme e melhor realização, o filme é um magistral puzzle de personagens atormentadas, que têm de lidar com adultério, injustiça, abuso de poder, prostituição, alcoolismo e morte. A mais valia do filme está no retrato dos conflitos pessoais, mas infelizmente, e passados mais de 50 anos desde a sua estreia, o filme perdeu alguma da sua intensidade.


From Here to Eternity
Columbia Pictures. Estados Unidos, 1953, 118m, romance / drama. Realizador: Fred Zinnemann. Argumento: Daniel Taradash, baseado no livro de James Jones. Actores: Burt Lancaster, Montgomery Clif, Debora Kerr, Donna Reed, Frank Sinatra

Relato da vida de três militares americanos estacionados na base de Honolulu dias antes do ataque a Pearl Harbour.

The End