Hal B. Wallis foi um dos mais importantes e influentes produtores de Hollywood, tendo sido responsável por mais de 400 filmes. O produtor começou a sua carreira na Warner Bros., onde foi responsável por filmes como As Aventuras de Robin Hood (1939), Relíquia Macabra (1941) ou Casablanca (1943) e, em 1944, criou a Hall Wallis Productions, produzindo, de forma independente, filmes para a Paramount Pictures e para a Universal Pictures.
Para a Paramount, Wallis produziu, entre outros, a maioria dos filmes da dupla Dean Martin / Jerry Lewis e, é neste contexto, que o produtor compra os direitos da peça francesa Boeing Boeing, de Marc Camoletti, com o objectivo do filme ser protagonizado por Dean Martin. Este recusou participar no filme e, após outras recusas, foi Tony Curtis quem se mostrou interessado e contractado para protagonizar o filme. O segundo protagonista também não foi escolhido à primeira e Wallis acabou por oferecer a personagem a Jerry Lewis. Após o fim da dupla com Dean Martin, em 1960, Lewis optou por produzir e realizar os seus próprios filmes, mas viu em Boeing Boeing uma oportunidade de interpretar um personagem menos “infantil” e mais sofisticado.
Boeing Boeing marca a primeira vez que os dois grandes amigos Tony Curtis e Jerry Lewis (este foi padrinho no casamento de Curtis) contracenam juntos num filme. No entanto, a produção esteve longe de ser pacífica: os dois tornaram-se bastante competitivos, de tal forma, que o Hal B. Wallis teve de fechar o filme à imprensa, com Curtis a pagar anúncios nos jornais a demarcar-se dos acontecimentos. Esta luta entre protagonistas é bem reflectida na forma como os nomes dos dois actores surgem nos créditos e no poster original do filme, de forma a que um não tenha primazia sobre o outro. A piorar ainda mais a complicada produção do filme, Lewis, em protesto contra a Paramount por o estúdio não querer que o actor produzisse e realizasse os seus próprios filmes, desapareceu durante alguns dias, atrasando as filmagens, o que custou cerca de 100 mil dólares à produção.
Num papel secundário, destaque para a veterana actriz Thelma Ritter, conhecida por filmes como Janela Indiscreta ou Eva, que aqui tem uma das suas últimas participações cinematográficas. A actriz interpreta o tipo de personagem porque ficou conhecida (cínica e de crítica afiada), mas, infelizmente, a sua interpretação já não é tão acutilante como noutros tempos.
Boeing Boeing não foge da sua origem teatral e centra a sua acção maioritariamente num único cenário (as únicas excepções são as cenas no aeroporto e uma perseguição pelas ruas de Paris). Assim, é com naturalidade que se “aceita” o estilo de série de televisão do filme (mais simples e com base na movimentada entrada e saída de personagens do “palco”) e, para o qual, muito contribuiu o realizador John Rich, cuja experiência era, essencialmente, em televisão.
Com um custo de pouco mais de dois milhões de dólares, Boeing Boeing teve uma recepção morna, quer por parte dos críticos, quer por parte do público. Muito embora hoje em dia possa ser criticado pelo seu retrato sexista e estereotipado das personagens femininas, Boeing Boeing é um retrato da época em foi produzido e que vale pelas prestações dos seus protagonistas, em particular pela interpretação “discreta” e fora do habitual de Jerry Lewis.
Boeing Boeing Paramount Pictures, Estados Unidos, 1965, 103 min., comédia. Realizador: John Rich. Argumento: Edward Anhalt, baseado na peça de Lucien Ballard. Actores: Tony Curtis, Jerry Lewis, Dany Saval, Christiane Schmidtmer, Suzanna Leigh, Thelma Ritter.
A vida de um jornalista norte-americano a viver em Paris complica-se quando os horários das suas três noivas se alteram e tem de as manter afastadas, com a ajuda de um amigo.
The End