A história do cinema está cheia de figuras pioneiras, que os tempos esqueceram. Alice Guy-Blaché é uma dessas figuras e cujo contributo foi fundamental para o desenvolvimento do cinema enquanto arte.
Alice Guy nasceu a 1 de Julho de 1873, em Paris. Filha de pais franceses, que viviam no Chile, Alice viveu os seus primeiros anos com a avó, até os pais regressarem a França, onde viriam a morrer pouco tempo depois.
A nível profissional, Alice Guy começou a sua carreira como secretária de Leon Gaumont, que trabalhava para um fabricante de máquinas fotográficas. Quando o negócio entrou em dificuldades económicas, Gaumont, em conjunto com outras figuras, entre elas Gustave Eiffel, comprou o inventário da empresa e formou, em 1895, a Gaumont et Cie, que viria a ser uma das mais importantes empresas cinematográficas do mundo. Alice Guy acompanhou Gaumont na nova empresa e ai toma conhecimento com o fascinante mundo das “imagens em movimento”, tendo assistido à demonstração realizada pelos Irmãos Lumière a 2 de março de 1895, onde exibiram o seu primeiro filme A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Lumière. Deslumbrada com o novo meio, Alice Guy decide aprender tudo o que podia sobre o Cinema e pede autorização para filmar a Leon Gaumont. Pouco tempo depois apresenta La Fée Aux Choux (1896), considerado o primeiro filme narrativo da história do cinema. Com o sucesso do filme, Alice Guy torna-se também responsável pela produção da Gaumont e o seu trabalho revelou-se inovador, nomeadamente na utilização da cor, do som, dos efeitos especiais e no desenvolvimento da narrativa cinematográfica. Em 1906, Alice Guy realiza dois outros dois marcos da sua carreira: La Vie du Christ, a sua primeira longa-metragem e um dos grandes blockbusters da época do cinema mudo, com 25 cenas e cerca de 300 figurantes, e La Fée Printemps, que utiliza efeitos especiais a cores.
Em 1907, Alice casa com Herbert Blaché, que, pouco depois, foi nomeado responsável pela produção da Gaumont nos Estados Unidos. Alice acompanha o marido para o outro lado do Atlântico e, após trabalharem juntos na filial norte-americana, o casal decide formar a sua própria empresa: a Solax Company. Sediada em Nova Iorque, a Solax tornar-se-ia no maior estúdio pré-Hollywood e onde Alice continuou o seu trabalho como directora artística, escrevendo e realizando grande parte da produção da empresa.
Em 1922, Alice Guy-Blaché realiza Tarnished Reputations, que viria a ser o seu último filme e dois anos depois divorcia-se, regressando a França. Ai tenta retomar a sua carreira, mas a dificuldade em provar o seu curriculum, já que poucos ou nenhum dos filmes da Gaumont sobreviveram, levam-na a escreve romances a partir de argumentos cinematográficos e a dar palestras sobre cinema. Esquecida durante décadas, Alice Guy-Blaché viu o seu trabalho reconhecido em 1955, quando foi condecorada pelo Governo Francês com a Legião de Honra. Nove anos mais tarde regressa aos Estados Unidos para viver com uma das suas filhas, falecendo em 1968.
Com uma carreira de mais de 700 filmes, a maioria desaparecidos, que abrangeram géneros tão diferentes como o drama, o western e as biografias, o trabalho de Alice Guy-Blaché permitiu o desenvolvimento do cinema, ajudando-o a transformar-se técnica e esteticamente.
Imagem: Apeda Studio New York, Public domain, via Wikimedia Commons
The End