Um dos grandes comediantes do cinema mudo, Buster Keaton cometeu, segundo o próprio, o maior erro da sua vida quando, em 1928, decidiu assinar contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), um dos maiores estúdios de Hollywood.
Com raízes familiares no espetáculo de vaudeville, Buster Keaton ganhou sucesso graças à sua comédia física, tendo tornado-se um dos três grandes comediantes do cinema mudo, a par de Charlie Chaplin e Harold Lloyd. O sucesso de Keaton deveu-se, também, à sua paixão e compreensão pelo meio em que trabalhava: o actor cedo se apaixonou pelas “imagens em movimento” e em aprender como tirar o melhor proveito do meio. O facto de ter, desde 1920, a sua própria produtora (Buster Keaton Productions) permitiu-lhe liberdade para construir os seus filmes de forma meticulosa e sem pressões. Infelizmente, um conjunto de fracassos de bilheteira levou ao fecho da empresa e contra os conselhos de Chaplin e Lloyd, Keaton decide enveredar pela segurança de trabalhar num grande estúdio e, acreditava, concentrar-se nos próprios filmes. No entanto, a realidade veio dar razão aos seus “rivais”.
O primeiro filme de Buster Keaton para a MGM foi O Homem da Manivela (foto), em 1928, e revelou-se ser o último grande filme do actor. Embora produzido na grande máquina de produção que era a MGM da altura, Keaton ainda conseguiu ter controlo e autonomia para produzir um filme à sua semelhança e que é um hino ao meio que tanto amava: o cinema. O filme foi um sucesso de bilheteira e usado pelo estúdio, nos anos seguintes, como um exemplo de comédia bem construída (de tal forma, que o negativo foi tantas vezes exibido que ficou danificado e parte do filme encontra-se desaparecido). Infelizmente, a MGM retirou as conclusões erradas do sucesso de O Homem da Manivela e continuou a ver Keaton apenas como um “palhaço triste”, interpretando mal o seu estilo de comédia. Para além disso, a MGM apenas viu Keaton como actor e não como artista completo, que podia contribuir mais para o processo criativo e técnico dos filmes. O filme seguinte, O Figurante (1929), é reflexo disso mesmo: embora tenha sido uma ideia do actor, a MGM dispensou a colaboração da sua equipa criativa, providenciou o argumento, designou um produtor pouco ávido para a comédia e, contrariando o actor, manteve o filme mudo. Embora O Figurante tenha sido um sucesso comercial, a sua produção revelou-se uma verdadeira guerra entre o actor e o estúdio, tendo marcado a relação entre ambos.
Se em O Homem da Manivela e O Figurante, ainda é possível deslumbrar o génio de Keaton, curiosamente os seus dois últimos filmes mudos, nas restantes produções da MGM, o actor perde-se em filmes menores, com argumentos fracos. Embora estes filmes tenham sido sucessos comerciais, o estúdio cansou-se de aturar o actor e libertou-o em 1933.
Após a MGM, Buster Keaton continuou a trabalhar, em filmes e na televisão, mas sempre como contratado e sem conseguir mostrar o seu talento por completo. Com o passar dos anos Keaton pensou que os seus filmes tinham sido esquecidos e só no final da vida, graças a uma retrospetiva da Cinemateca Francesa, em 1962, e a um tributo do Festival de Veneza, em 1965, é que se apercebeu que os seus filmes eram acarinhados e não estavam perdidos. No entanto, para ele, “os aplausos foram bons, mas chegaram tarde”. Buster Keaton viria a falecer no ano seguinte.
The End